Carlos Gomes da Silva atuava no RS e hoje é vereador em Piracicaba (SP)
O
capitão Carlos Gomes da Silva vivenciou o golpe de 1964, que ele chama
de revolução, como sargento em São Leopoldo (RS). Hoje na reserva depois
de atuar em Presidente Prudente (SP), Piracicaba (SP) e Campinas (SP),
ele crê que o fim da ditadura também provocou uma inversão de papéis no
imaginário brasileiro. “Eu era herói e hoje sou bandido. E quem antes
era bandido virou herói.” O militar atua como vereador em Piracicaba.
Gomes não apoia grupos que pedem a volta da ditadura militar, mas crê
que a história não mostra pontos benéficos da intervenção militar. “Não
houve uma revolução, houve uma evolução, nós não podemos distorcer a
história. Quando falam de tortura para mim, eu acredito que houve, mas
nunca presenciei e nunca pratiquei. Minha preocupação sempre foi com a
instituição militar.”
Atuando em um dos locais de maior tensão do golpe militar, Gomes
recorda-se de ter sido chamado pelo comandante em São Leopoldo para
anunciar o golpe. “Ele (o comandante) convocou todos e expôs a situação
do país e perguntou a todos qual era o posicionamento. Alguns falaram
que defendiam a Constituição, logo o presidente, e na minha vez eu disse
que estava ali para seguir ordens. Uma parte foi para casa e eu
fiquei.”
‘Melhor fase’
Integrado ao grupo de “revolucionários”, ou golpistas, o capitão
relatou ter feito viagens para defender pontos estratégicos do estado e
acompanhado manifestações pró-golpe em Porto Alegre (RS). “Foi a minha
melhor fase no Exército, pois eu entrei do lado certo sem saber, apenas
para cumprir ordens.”
Primeiro aluno durante o período de formação militar, vencedor de
inúmeras medalhas em competições de tiro, condecorado com medalhas como
as Estrelas de Bronze, Prata e Ouro por 30 anos de serviços prestados, a
carreira de Gomes sempre foi ascendente e marcada pela atuação no Tiro
de Guerra de diversos municípios.
‘Fim do rancor’
Sobre o período em que os militares ficaram no poder, Gomes crê que
há um rancor entre a população e o Exército oriundo do período.
Avaliando a ditadura, ele crê que se Artur da Costa e Silva, presidente
entre 1967 e 1969 que entrou para a história por promulgar o Ato
Institucional Nº 5, tivesse convocado eleições a imagem do militarismo
seria diferente.
“Havia um pensamento do general Costa e Silva de passar para a
democracia. Se isso tivesse acontecido, o Exército, hoje, estaria sendo
visto de outra maneira. Seria como poder moderador que colocou a casa em
ordem e do tipo: ‘estava desorganizada, organizei, mas continua sendo
sua (povo).’”
Revolução ou golpe?
Enquanto militares institucionalizaram a palavra revolução e a data
oficial da tomada de poder em 31 de março, historiadores defendem que o
ato foi um golpe militar e que aconteceu em 1º de abril. Gomes defende
que o evento foi uma “revolução democrática”. “A família conclamou a
revolução. Articularam uma enormidade de gente na rua em uma época sem
internet. E ninguém quebrou vidros ou amassou carros. Eu lembro de ter
visto muitas mulheres e crianças à frente”, disse.
Hoje afastado de suas obrigações militares, Gomes é vereador pelo PP.
Como ocupante de um cargo eletivo, ele defende o voto. “Eu acho que não
é por aí (golpe militar), tem que ter eleições, vá votar, cobre gente
decente nos partidos. Militar tem que ficar no quartel.”
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